Genebra - A Suíça transferiu
ao Brasil todos os documentos e extratos bancários envolvendo o
ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (RN). Ele pediu demissão anteontem (16) do
cargo depois de ter sido informado que os dados sobre sua conta bancária no
país europeu já eram de conhecimento dos investigadores da força-tarefa
da Operação Lava Jato.
Na Europa, fontes próximas ao caso
confirmaram à reportagem que Henrique Alves manteve uma conta com depósitos que
variavam entre US$ 700 mil e US$ 1 milhão. O dinheiro está bloqueado, mas o
banco não teve seu nome revelado pelas autoridades do país. Alves foi o terceiro ministro da
gestão Temer a cair e, em uma carta, explicou que não queria criar
"constrangimentos" para o presidente em exercício, Michel Temer.
A investigação começou em Berna, na
Suíça, sob a suspeita de que a conta tenha sido alimentada por recursos de
propinas. A conta de Alves, porém, é uma das mais de mil contas hoje bloqueadas
pelos suíços em seus bancos locais relacionadas com a Lava Jato.
Mas, para os suíços, o caminho adotado
foi o mesmo seguido no caso do deputado federal afastado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ). Para a procuradoria suíça, não faria sentido processar o brasileiro,
levá-lo a um julgamento em Berna e, em seguida, jamais conseguir sua punição. O
motivo é que o Brasil não extradita seus nacionais.
A ideia negociada com os procuradores
da República brasileiros foi a de transferir o caso para o Brasil a fim de que
Alves, agora, seja investigado e julgado em seu próprio País. Para os suíços, a
transferência do caso também permitirá que a Justiça no Brasil possa agir de
forma rápida, garantindo assim que as provas e mesmo os recursos não sejam
perdidos.
Henrique Alves já havia sido citado
anteriormente na delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio
Machado, homologada pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal
(STF). Nela, o delator da Lava Jato contou que entregou R$ 1,55 milhão para
Alves. Segundo ele, o dinheiro tinha origem em propinas pagas por empresários que
mantinham contratos com a Transpetro.
Os pagamentos teriam sido feitos pela
empresa Queiroz Galvão nos anos de 2008 (R$ 300 mil), 2012 (R$ 250 mil) e 2014
(R$ 500 mil) e pela empresa Galvão Engenharia, em 2010 (R$ 500 mil). Ainda em sua delação, Machado afirmou
que Henrique Alves "era uma pessoa com quem sempre manteve relação
cordial". Ele afirmou que Alves, então deputado do PMDB, levou a ele
algumas empresas da área de tecnologia ou serviços até a Transpetro para que
Machado as contratasse, mas nenhuma negociação avançou.
"Eu sempre o ajudava em época de
campanha quando ele me ligava pedindo um encontro. Eu sempre o ajudei por meio
de doações oficiais, cujo origem eram vantagens indevidas pagas pelas empresas
contratadas pela Transpetro." Machado contou que telefonou várias
vezes para Alves. Ele afirmou ainda que manteve encontros com o ex-ministro na
sede da Transpetro. Ainda segundo o delator, quando era
preciso fazer a doação oficial, o dinheiro normalmente era repassado aos
partidos, que depois, enviavam o dinheiro aos políticos. Ainda segundo Machado,
"foram repassados ao PMDB pouco mais de R$ 100 milhões cujo origem eram
vantagens ilícitas".
Nota
Em
nota divulgada anteontem (16) a assessoria do ex-ministro informou que ele
desmente as acusações de Machado. Sobre as investigações feitas pela Suiça,
Alves informou: "Refuto qualquer ilação a respeito de conta no exterior em
meu nome." A nota do ex-ministro do Turismo
prossegue afirmando: "Não fui citado a prestar esclarecimentos".
Alves disse ainda que está "como sempre estive, à disposição da Justiça,
até porque sou o principal interessado em ver todas essas questões
esclarecidas". Por fim, o político afirmou que acredita "nas
instituições do nosso Estado Democrático de Direito
Exame.Com
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