O
ginasta Arthur Zanetti conquistou
a esperada medalha de prata na final das argolas, aplaudiu o resultado e
prestou continência ao subir ao pódio. Há quem ainda se surpreenda, mas o gesto
começa a ser comum nuns Jogos onde 145 atletas– quase um terço da delegação brasileira – são parte das Forças Armadas. Das
dez medalhas conquistadas pelo Brasil até esta terça-feira, oito vêm dos
quartéis, enquanto em Londres foram apenas cinco. Mas de onde saem tantos
atletas de elite com vocação militar? É uma bem sucedida campanha de marketing
das Forças Armadas ou o protagonismo dos sargentos apenas ilustra a falta de
investimento do Brasil no esporte de competição?
Zanetti,
assim como o colega Arthur Nory (bronze), os judocas Rafael Baby Silva(bronze), Sarah Menezes ou Rafaela Silva (ouro), a dupla de jogadoras de vôlei
praia formada por Talita e Larissa, o atirador Felipe Wu (prata), a esgrimista
Amanda Simeão ou a maratonista aquática Poliana Okimoto (bronze), passaram por um edital
público e se tornaram militares, mesmo sem vocação de combate. Zanetti, por
exemplo, se incorporou ao programa há um mês e os jovens boxeadores e sargentos
Michel Borges e Patrick Teixeira, criados na favela carioca do Vidigal, sequer
prestaram o serviço militar obrigatório.
Todos
eles, no entanto, têm nas Forças Armadas uma renda fixa que, somada a outras
possíveis ajudas do Governo, como
o Bolsa Atleta, o Bolsa Pódio ou os recursos dos patrocinadores tiram os
esportistas de elite da precariedade. Além da instrução básica militar, eles
recebem um salário equivalente ao de terceiro sargento (cerca de 3.200 reais
brutos), contam com seguro médico e direito de usar as instalações do Exército,
da Aeronáutica ou da Marinha, segundo a instituição que os contrate. Nesta Olimpíada há
equipes, como a do judô,
compostas exclusivamente por militares. A seleção feminina é toda da Marinha
brasileira, e a dos homens é do Exército.
Em
casos como o da sargento Tang Sing, lutadora de taekwondo, recursos básicos
como um nutricionista ou um lugar para treinar que não fosse a varanda de casa
só foram possíveis uma vez que ela entrou no Exército. “Graças ao Exército pude
realizar meu sonho de participar dos Jogos
Olímpicos. Antes não tinha nenhum apoio e estava a ponto de abandonar o
esporte. Com meu soldo como militar [cerca de 3.000 reais], consegui pagar um
nutricionista, fiz viagens internacionais para competir, arco com meus
suplementos energéticos... Tudo isso é muito caro e eu sempre passei
dificuldades econômicas”, disse ao EL PAÍS em julho.
El País
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