presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que permite a comercialização e uso da chamada “pílula do câncer da USP” mesmo sem registro da Anvisa, apesar de estudos científicos não terem apontado nenhuma eficácia de sua substância, a fosfoetanolamina sintética, no tratamento da doença. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira (14).
Na terça, a Casa Civil recomendou à
presidente a liberação do uso da substância para evitar qualquer ameaça de
desgaste (e de perda de votos) às vésperas da votação do impeachment na Câmara.
O texto do projeto de lei permite que pacientes diagnosticados com câncer usem
a substância por livre escolha, desde que assinem termo de consentimento e
responsabilidade, antes de concluídas as pesquisas científicas para seu
registro definitivo na Anvisa.
Médicos
e Anvisa se posicionaram contra liberação
Pareceres técnicos preparados pelos
ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio; Saúde; Ciência,
Tecnologia e Inovação, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária e pela
Advocacia Geral da União sugeriram à presidente o veto integral do projeto.
Assim como sociedades médicas e
pesquisadores. Os principais argumentos são a falta de estudos para confirmar
se o composto não é uma ameaça à saúde dos pacientes e o risco de tal aprovação
abalar a imagem do controle sanitário no país. “Não sabemos se funciona, se é
tóxico, se interfere no tratamento convencional. Não sabemos nada a respeito da
pílula. Estamos no escuro”, afirma o oncologista Auro Del Giglio, do Instituto
Brasileiro de Controle do Câncer. Para ele, a pílula “não deve ser assunto
político”.
Embora o produto tenha sido preparado
pela primeira vez há 20 anos em um laboratório de química, ele nunca foi alvo
de pesquisas científicas para comprovar sua eficácia contra o câncer ou
segurança. Os responsáveis pelo produto também nunca pediram o registro na
Anvisa.
“O legislativo está basicamente
abrindo as portas para uso irresponsável de substâncias, quando deveria estar
se debruçado sobre a legislação da pesquisa clínica para, aí sim, seguindo os
preceitos da boa medicina e da boa pesquisa, facilitar o acesso dos nossos
pacientes às pesquisas sérias”, afirma o oncologista Otávio Clark, CEO da
Evidências – Kantar Health, empresa que realiza avaliações de tecnologias em
saúde.
Apresentado por 26 deputados, o texto
teve uma tramitação relâmpago no Congresso Nacional. Ele foi aprovado na Câmara
dia 8 de março e duas semanas depois já havia sido aprovado também no Senado.
Texto
não deixa claro quem fará pílula
Apesar de fazer a ressalva de que a
produção da substância só pode ser feita por “agentes regularmente autorizados
e licenciados pela autoridade sanitária competente”, o texto não estabelece de
forma detalhada como e quando se dará essa produção, nem esclarece como será
feita sua distribuição. O texto, redigido por deputados, também não deixa claro
onde essa substância será vendida, nem quais serão seus custos.
‘Pílula
da USP’
A
fosfoetanolamina foi sintetizada no Instituto de Química da USP por uma equipe
de pesquisadores chefiada por Gilberto Chierice. Apesar da falta de registro,
cápsulas da substância eram distribuídas gratuitamente pelo pesquisador no
campus da USP em São Carlos.
Há dois anos, o remédio parou de ser
entregue, depois de uma determinação da própria universidade para que produtos
experimentais não fossem entregues à população.
A USP denunciou Chierice por
curandeirismo, acusando o pesquisador de ter prescrito, ministrado ou aplicado
a fosfoetanolamina sintética para a cura de doenças. Os crimes denunciados pela
USP, levando em conta o Código Penal, se somados podem resultar em até quatro
anos de prisão.
UOL
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